quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Casas Bahia On Line ! ! !

Tudo em casa
Outsourcing é palavrão na Casas Bahia. Para Frederico Wanderley, CIO da rede de varejo, está para nascer fornecedor capaz de segurar um ambiente de TI que não pode ficar um segundo sequer fora do ar Luana Pavani Data center próprio, suporte técnico interno, sistema core desenvolvido em casa. A Casas Bahia, maior rede de varejo de móveis e eletrônicos do país, com faturamento de 11,5 bilhões de reais em 2006, diz não ao outsourcing por princípio."Não terceirizamos nada para ter o domínio do negócio", afirma Frederico Wanderley, diretor de informática da Casas Bahia. Fred, como é chamado na empresa, é pioneiro na utilização de Linux, sistema implantado em 2001. Já em comércio eletrônico, a Casas Bahia ainda não entrou, por entender que o mercado online não estava maduro. Mas com quase 3 milhões de clientes portadores de cartão, a rede planeja ter uma loja virtual em 2008. Para a TI, prover informações em tempo real é uma das principais preocupações. A diretoria acompanha online as vendas de cada uma das 545 lojas no país, com dados atualizados a cada segundo. Essas informações são tema de uma reunião diária, que acontece na hora do almoço, entre a diretoria e Michel Klein, o diretor executivo da empresa."A tecnologia tem de servir para aumentar a produtividade da loja", diz Fred Wanderley, um apaixonado por aviação e fotografia, além de tecnologia. Acompanhe trechos da entrevista concedida à Info CORPORATE no novo centro de tecnologia da Casas Bahia, em São Caetano do Sul, no ABC paulista.

Info CORPORATESó neste ano a Casas Bahia anunciou o interesse em entrar no comércio eletrônico. Por que a demora em aderir às vendas online?

FREDERICO WANDERLEYFoi uma decisão da família Klein, ao ver que o mercado eletrônico não estava tão maduro. De um ano para cá a situação mudou, pois a venda de computadores tem aumentado bastante e estamos sentindo outro tipo de condição de pagamento, com a alavancagem do cartão de marca própria. Hoje há por volta de 2,8 milhões de clientes usuários do cartão private label, emitido pelo Bradesco, nosso parceiro operacional de financiamento, e com a bandeira Visa. Segundo o Michel Klein anunciou, quando atingirmos uma base de 4 milhões de cartões Casas Bahia, será o momento de entrar no comércio eletrônico. Nosso próprio público consumidor já forma uma quantidade expressiva para lançar a operação. A Casas Bahia possui 26 milhões de clientes cadastrados, dos quais 16 milhões são ativos, ou seja, fizeram ao menos uma compra nos últimos 24 meses. Possivelmente no começo do ano que vem teremos um piloto da loja virtual.

ICA expectativa é de que a loja virtual seja equivalente em vendas a quantas lojas físicas?

WANDERLEYAinda não sabemos quanto o comércio eletrônico vai representar para a Casas Bahia, mas temos tudo para conseguir um bom volume. Do que ouvimos no mercado, o comércio eletrônico representa em torno de 5% a 10% do faturamento dos nossos concorrentes, como Ponto Frio e Magazine Luiza, e eles incluem nessa conta vendas por telefone ou de forma presencial, acessando a web dentro da loja. Por exemplo, para um faturamento de 2 bilhões de reais de um concorrente, 5% equivaleria a 100 milhões de reais no online. Numa loja física é possível vender mais do que isso. As pessoas vão lá na internet, entram no Buscapé e escolhem o produto mais barato. Mas nem sempre preço baixo é a opção mais cômoda para o cliente. Até agora, a Casas Bahia primou por não queimar sua imagem. Há muitas questões por trás de uma loja virtual. Não basta colocar o site no ar, é preciso ter a logística preparada e foco na satisfação do cliente, que é o lema da empresa.

ICComo é a integração da TI e das outras áreas de negócios com a logística na Casas Bahia?

WANDERLEYÉ tudo integrado, para que as lojas funcionem 100% em tempo real. Quando o cliente faz uma compra, de acordo com a região de entrega, o sistema no nosso depósito faz a carga automática no caminhão. A frota é própria, com 2 254 caminhões. A não ser que o cliente queira mudar algo, o vendedor mostra para ele, na tela, o dia da entrega. Só não marcamos hora. Na outra ponta, para termos certeza absoluta do inventário e agilizar os processos, temos um projeto de RFID. Será diferente do que ocorre no Wal-Mart, por exemplo, que tem foco nos paletes. O nosso é em produto. A estrutura que estamos montando é para chegar até a loja com RFID. No depósito de Jundiaí (interior de São Paulo), onde há 400 boxes de saída, em 17 deles coloquei portal RFID, para leitura das etiquetas nas caixas dos produtos. Assim, o abastecimento dos caminhões será perfeito, sem erros, e a partir daquele momento será disparada a nota fiscal de transporte do produto, que ainda não está em formato eletrônico, que deixamos para o ano que vem. Posteriormente, o uso de RFID será estendido para a fábrica de móveis e também vou conversar com os maiores fornecedores para nos enviarem seus produtos com as etiquetas.

ICForam investidos 20 milhões de reais num novo centro de tecnologia. O que motivou a decisão de adquirir no lugar de alugar um data center?

WANDERLEYPor princípio, a Casas Bahia não é a favor da terceirização, prefere fazer tudo para ter domínio do negócio. O custo final com aluguel é maior, porque ao conhecer seu negócio você pode fazer mudanças, sem depender de externos. Por mais que eles digam que não, compartilham o equipamento com outros e jogam com estatísticas: fulano usa y, sicrano usa x. Para nós, o sábado, que é o dia de maior movimento, tem picos de 4 milhões de transações por hora. Precisamos de 99,9% de disponibilidade, e fornecedor nenhum tem estrutura para isso. Nossos dois sites, o novo, inaugurado em novembro de 2005, e o CPD antigo, na sede, têm data sharing e carga balanceada em tempo real. Se um cair, o outro assume imediatamente. Somos a primeira empresa da América Latina a implantar storage de alta disponibilidade totalmente balanceado. Se é um data center alugado, eles não vão atualizar as máquinas como deveriam. No nosso caso, estamos atualizando o parque tecnológico, desenvolvendo sistemas e comprando software básico. O orçamento de TI, em média, representa entre 0,7% e 0,8% do faturamento anual. Para a Casas Bahia, TI não é despesa, é investimento em produtividade.

ICHá um relógio no monitor do presidente da Casas Bahia que registra as vendas da rede por lojas. Com que freqüência esses dados são atualizados?

WANDERLEYO que os diretores vêem é um sistema de vendas consolidado, em tempo real. O banco de dados, altamente estruturado, é visualizado no sistema de Business Intelligence (BI). Usamos um da Cognos, que hoje possui 350 milhões de registros. O gestor é quem define o tempo de atualização, que pode ser constante, com os dados comparáveis com a situação de uma hora atrás ou do dia e mês anteriores, por região, loja, vendedor, produto, tipo, modelo, fabricante. O gestor pode enxergar se determinada loja está acima ou abaixo da meta estabelecida, se a compra foi parcelada ou foi à vista, que tipo de cartão o cliente usou, se de débito ou de crédito, com chip ou magnético. Vou implementar agora um sistema de gerenciamento de painel eletrônico, que é um dashboard fractal, da fornecedora Advus, ainda inédito no Brasil. O sistema mostra resultados e tendências com constantes mudanças de cor, alteradas ao mover o mouse sobre círculos, que vão abrindo e mostrando os dados. Não é um relatório frio. A gente tem proatividade e versatilidade para mudar rapidamente um processo. A tecnologia permite extrair maior produtividade das lojas e, portanto, reduz custos.

ICTodo o desenvolvimento de sistemas na Casas Bahia é realizado internamente?

WANDERLEYDesenvolvemos nossos próprios produtos. O time é antigo, a idade média de casa dos 170 profissionais da TI é de 15 anos. Estou há 32 anos na empresa. Todos conhecem bem o negócio. O que é decidido no almoço diário com a diretoria e os donos da empresa deve ser resolvido rapidamente. Jamais teríamos agilidade com software comprado, porque teria de chamar o fornecedor, falar com um consultor, levantar preço... aí vira um projeto. O sistema de vendas, que é o core business, foi totalmente desenvolvido por nós, e roda em mainframe. Já o sistema de gerenciamento de mercadorias é um software de mercado, chamado Boss, da fornecedora Infor. Ambos estão integrados, de maneira que o vendedor enxerga todas as informações específicas daquele produto, sua localização na rua do centro de distribuição, se está liberado para venda e em quais condições. A rede é MPLS, com capacidade de 1 MB, entre as 545 lojas. Todas as lojas acessam os sete centros de distribuição, para os quais o link é de 10 MB. A telefonia usa a tecnologia VoIP, para aproveitar a rede IP.

ICComo é seu relacionamento com os fornecedores de TI?

WANDERLEYMuita gente vem tentar vender para a Casas Bahia. Mas na realidade eles não têm estrutura para agüentar o volume de um ambiente de TI que não pode ficar fora do ar um segundo sequer.O grande problema na relação com os fornecedores é o pós-venda. Não há um fornecedor sequer digno desse serviço. Isso é gritante no Brasil. Por isso, faço diferente. Criei um departamento de novas tecnologias, que analisa o produto e procura entender a tecnologia antes de fechar o contrato com o fornecedor. E o pessoal de pré-venda (do fornecedor) tem de acompanhar, para ver se funciona. Vou muito ao exterior ver novas tecnologias e conversar sobre roadmap em feiras e nos laboratórios dos nossos parceiros, como a IBM e a CA. Se vejo que é sopa de letrinhas já descarto. SOA, por exemplo, nada mais é do que um processo estruturado, que existe na Casas Bahia há muito tempo.

ICNas lojas da rede as máquinas são próprias também?

WANDERLEYÉ tudo nosso, também para automação de loja. Os terminais acessam o sistema de vendas dando boot remoto no servidor, que usa o sistema Linux. São 22 mil computadores diskless, às vezes thin clients, mas precisam de memória, para ter um cache maior. Nosso próximo passo é um projeto de contingência nas lojas, para que os servidores assumam as tarefas do mainframe, com segurança, usando criptografia. Para isso estamos usando Java e Linux.

ICQuanto a Casas Bahia já economizou com Linux?

WANDERLEYNão é só o Linux que gera economia. Não usamos desktop nas lojas. Desde os tempos do OS/2 temos expertise em boot remoto. Quando a IBM avisou que iria descontinuar esse sistema operacional, colocamos Linux em teste, numa loja, após a aquisição da Rede Mourão, em Taguatinga, no estado de Goiás. Isso em 2001, com um software Red Hat, que na época se podia baixar de qualquer site ou comprar na banca de jornal. Fizemos o teste, deu estabilidade, e prosseguimos com a implantação em toda a rede, até 2002. Ainda tenho os mesmos equipamentos de 2001 rodando, porque com o boot remoto não precisa ficar atualizando os terminais nem o antivírus, que está no servidor. O que economizei até hoje é monstruoso. Cheguei a testar 600 terminais ligados a um servidor, depois os dividi em três, por uma questão de segurança. Imagine quanto teria de pagar nessa situação com todas as licenças de software e maior quantidade de servidores?

ICFoi difícil ser um dos pioneiros na utilização de Linux?

WANDERLEYNo começo sofri muito, porque Linux tinha uma aura acadêmica e a Red Hat não estava no Brasil. Hoje usamos distribuição Suse, que o laboratório da IBM dá suporte. Aliás, tenho uma briga antiga com a IBM, que deveria se preocupar mais com o kernel (núcleo) do sistema operacional do que com essa ou aquela distribuição. Só assim o Linux vai disparar nas empresas.

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